Qual área de conhecimento é mais crítica num projeto?

Volta e meia pipoca aqui e lá a questão sobre qual(is) área(s) de conhecimento é a mais importante, ou a mais crítica para a gestão de um projeto. E o que percebo é que a tendência é que as áreas de gerenciamento de escopo, prazo, custo e comunicação ganham de lavada, sendo que esta última costuma, muitas vezes, a ser a mais citada.

Na minha opinião, não acho que seja o caso de escolher uma ou outra área de conhecimento como mais crítica que outras. Mas, se alguém colocasse um revólver na minha cabeça e pedisse para escolher, eu apontaria Gerenciamento da Integração.

O PMBoK, embora provavelmente seja a mais completa e genérica referência em Gestão de Projetos, é escrito como um “guia de referência” e não como um “manual de operação”. Sendo assim, a sua estrutura pode levar as pessoas a pensarem nas áreas de conhecimento como coisas relativamente estanques, e através de sua leitura não é fácil entender a dinâmica de um projeto.

OK, não esqueci que há diversos diagramas que mostram uma possível integração entre processos. Mas o próprio fato de os desenhos  estarem espalhados pelo documento dificultam essa visão integrada.

Não estou dizendo que isso está errado. O PMBoK, como um “Corpo de Conhecimento” (que é a sua proposta), está organizado como uma referência, um conjunto de práticas, conceitos de um determinado domínio (http://en.wikipedia.org/wiki/Body_of_Knowledge). Compare, por exemplo, com a forma como é apresentado o PRINCE2, que é considerado uma metodologia, e não um Corpo de Conhecimento.

Aliás, penso que a melhor maneira de ensinar gestão de projetos com base no PMBoK seja através da simulação de fases de um projeto e não por área de conhecimento.

Por ser uma referência, o uso das técnicas, processos e práticas propostas no PMBoK requerem sempre adequação ao contexto.

Essa adequação implica em definir processos, práticas, templates, indicadores, estrutura da equipe, comunicação, enfim todo o “modus operandi” do projeto, de acordo com as necessidades específicas daquele projeto.

Ao levar em conta o contexto do projeto, para aquele caso em particular, pode ser que seja dada mais ênfase aos processos de uma ou outra área de conhecimento.

De um modo geral, essa ênfase em determinados processos de algumas áreas quer dizer, na minha visão, tornar aquele processo mais formalizado, com recursos específicos para cuidar daquele processo ou tendo uma atenção maior às práticas e, também, aos registros formais daquele processo.

Porém, mesmo que a ênfase seja maior em determinados processos no projeto, a maioria  dos processos, de uma certa maneira, deveriam “acontecer” para que um projeto seja bem gerenciado. O que muda é o “grau de formalidade” com que cada processo é realizado.

Ou seja, todas as áreas de conhecimento são críticas, mas alguns processos são mais ou menos críticos conforme o contexto.

Ainda assim, se tivesse que opinar, optaria por Gerenciamento da Integração. Por que? Pela simples razão de que todas as outras atividades e responsabilidades da gestão do projeto têm que ser corretamente integradas. Se eu preciso comunicar algo, eu tenho que saber adequar a comunicação conforme a parte interessada. Se preciso replanejar para implementar uma mudança, eu tenho que alocar as pessoas certas para fazer esse replanejamento. Se eu vou entender as causas de um desvio de custo, eu tenho que utilizar as ferramentas de qualidade corretas. E quem orquestra a realização dessas práticas todas é a Gestão do Projeto (seja ela feita por um gerente, uma equipe de gerenciamento ou um PMO).

Por fim, acho meio “perigoso” a tendência de se considerar com muito mais ênfase as áreas de prazo, custo e escopo (sem considerar qualidade e risco). E acho que tem virado um mito que “comunicação é o maior problema em projetos”, e portanto a área mais crítica. Já escrevi sobre isso neste blog (http://marcelfleming.com/2011/03/26/o-problema-e-comunicacao-sera-mesmo).

As atividades de comunicação são, de certa forma, consequência das atividades de um projeto. Projetos são instituídos para entregar algo no prazo, dentro de um custo e que satisfaça os requisitos das partes interessadas. Para que isso ocorra, é preciso planejamento e integração. Planejamento não é só de escopo: é de RH, de qualidade,  de gestão de riscos etc…

Para se comunicar tem que haver algo a se comunicar, saber para quem comunicar e tendo um objetivo… Olhe bem os processos definidos no PMBoK: onde são definidas essas variáveis necessárias para a comunicação?

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